"Vilnis ofereceu-se para dividir o seu almoço comigo,
generosidade que aceitei, sem saber bem o que é significava... onde raio é que
ele tinha o almoço? Descobri pouco depois, quando o vejo tirar um fogão (sim,
daqueles de campanha, com um bico apenas) de um armário e a montá-lo no meio da
cabina! Abriu o tecto de abrir, no topo do camião, à laia de chaminé, pegou
numa panela, em algumas caixas de plástico que estavam no frigorífico, cortou
uns legumes frescos, juntou água e voilà, sopa de carne ao lume!
Já alguma vez vos disse como odeio sopa de carne?... Pois
bem, ali estava eu com ela à frente, preparado para mais um passo fora da
caixa. Só não sabia o que me esperava! Ao meter uma colher de sopa à boca tive
uma epifania culinária: como é que raio aquilo podia ser TÃO BOM?! Sim, era
sopa de carne; sim, tirávamos os pedaços de carne para um prato e comíamos à
mão entre as colheradas de caldo; e sim, o sabor era fabuloso! E tinha sido
feita num camião... Onde é que esta receita tinha andado toda a minha vida?!
Escusado será dizer que comi e chorei por mais. Mas além do sabor em si houve
outra coisa que me aqueceu o coração: aqui estava aquele homem, que nunca me
vira, e que decidira partilhar o seu espaço, o seu dia e a sua comida comigo,
de forma totalmente altruísta e despreocupada... Marcou-me a sua generosidade,
a sua transparência e a forma humilde como tudo aqui se estava a passar. Muito
obrigado, Vilnis, muito obrigado!"
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