Paris é uma cidade especial, lindíssima, portentosa, vasta e diversa, mas ainda assim o pináculo da forma como os franceses tendem a ver a vida, a preto e branco. Nao me interpretem mal, tem a ver com "tem bilhete ou nao tem bilhete?", ou com "tem como pagar ou nao?": para eles ou é ou ao é, pronto! Por nao ter consciencia disso passei 2 dias e meio às voltas em Paris, encalhado. E foi nestas circunstâncias que tive uma das mais poderosas ecperiências da viagem.
Como devem imaginar, ao terceiro dia encalhado (17 negas em comboios e bilheteiras, trabalho nem vê-lo e um dia a tentar apanhar boleia para fora da cidade sem sucesso, uma noite numa arrecadaçao de um hotel e outra a aproximar-se sem local para dormir) a minha mente começou a exigir que a "alimentasse" de forma clara com auto-conversa positiva para manter o nível de concetraçao em cima durante todo o sábado. Foi neste contexto que dou de caras com um restaurante português, na zona de Gentilly.
"FIXE!!", pensei! Entrei e pedi trabalho... nao dava, poderia tentar no outro restaurante mais acima... Ok, disse, e já tinha a mochila às costas quando a D.a Fernanda me perguntou "Olha lá, mas tu almoçaste hoje?", "Eu nao...", "Entao senta-te aí e come connosco! Haá dobrada!!", "Mas eu nao tenho como pagar!...", "Nós oferecemos!! anda daí, senta-te que já te trago o prato!".
A sensaçao foi de indescritível alegria... Além da delicia que estava a fome que ja remoia ha um dia tratou do resto, e comi ate a ultima gota de molho! Mas nao ficou por aqui!
Subindo a rua, na pastelaria portuguesa, a D.a Eugénia, que nao tinha trabalho para mim, enfiou-me dois pastéis de nata e um pao de chocolate no saco, e no restaurante seguinte, mesmo sem trabalho para me dar, sugeriram que passasse na igreja mais acima na rua, que era da comunidade portuguesa (a fachada é a da foto).
Tudo isto arrumou com a minha compustura, e dei por mim quase a chorar sozinho na rua. O abraço que aquela gente me tinha dado, sem me conhecer, mexeu imenso comigo... foi encantador, sem dúvida, mas ao final de 10 dias a aguentar a pressao foi demolidor. Lembrei-me entao de uma coisa que o meu padrinho (pe Joao Mónica, que já nao está connosco) me tinha dito uma vez: "quando estiveres a rasca e precisares de desabafar arranjar um padre, normalmente tem paciencia e podem ser dar-te um abraco amigo!"... Assim fiz.
No final da missa passei pela sacristia, e foi com muita emoçao que "despejei o saco" com o pe. JOsé anastácio, madeirense, que muita paciencia teve para me ouvir! E, imaginem, no final ainda me ofereceu o jantar la em casa e o chao da sala para eu dormir!! Foi indescritível!!!
Por tudo isto senti que devia agradecer a toda aquela comunidade, e no final da missa (no domingo) lá subi ao "palanque" para contar o que estava a fazer e agradecer a forma como fui acolhido. Pois, imaginem, nao só me brindaram com uma salva de palmas como, de repente e assim do nada, todos queriam saber mais e acabei com dinheiro no bolso para chegar quase a Portugal!!!
No fim do dia, quando apanhei o comboio, o meu coraçao estava radiante: Paris havia sido demolidor, primeiro, para se tornar um evento revelador do que uma comunidade unida pode fazer, consegue fazer... Obrigado, comunidade portuguesa de Gentilly, obrigado pe. Zé!
Pronto. Já fiquei a chorar também....
ResponderEliminar:) Que bonito...são essas pessoas/atitudes que fazem a vida valer a pena...:)
ResponderEliminarAinda há gente boa neste mundo insano! :)
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