segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dia 9 - Antuérpia. Lille e Paris (excerto do primeiro esboço do livro!)



Enquanto esperava que o revisor me desse o bilhete, na ponta da carruagem, chegou ao pé de nós uma senhora que lhe pediu para a ajudar a encontrar o lugar. Ele deixou-me ali e acompanhou-a ao lugar, na carruagem seguinte, e foi aí que a coisa descambou. Aproximou-se de mim outro revisor, que não tinha assistido à conversa, e pediu-me o bilhete. Expliquei que não tinha, ao que ele respondeu que mo tirava, pegou na maquineta e perguntou para onde ia. Eu expliquei-lhe que estava à espera do colega dele, com quem tinha falado, mas ele insistiu em tirar-me o bilhete. Foi então que lhe expliquei que não tinha como lhe pagar, que tinha falado com o chefe do comboio e que o colega dele estava ao corrente da situação. Ele fez uma cara muito feia, e disse com voz irritada que eu não podia viajar sem bilhete. Insisti que o chefe do comboio e o colega revisor estavam ao corrente e pedi-lhe que falasse com eles, ao que ele pegou no telemóvel e desatou a falar francês com eles àquela velocidade especial que eles usam e que impede um estrangeiro de perceber o que quer que seja. Depois pediu-me para não sair dali (como se eu fugisse de um comboio a mais de 300 km/h!) e foi até à carruagem da frente. Voltou pouco depois para me pedir o passaporte. Vinha com cara de poucos amigos, e a irritação que demonstrava indicava que vinham aí sarilhos. Dei-lhe o meu cartão de cidadão, que ele rejeitou por não ter morada, pedindo um documento que tivesse. Expliquei-lhe que não tinha e que o cartão de cidadão era válido na União Europeia, ao que ele me perguntou a morada de residência e começou a escrever na maquineta dos bilhetes. Poucos minutos depois passou-me um papel que percebi ser uma multa, de 98€, deu-me uma descompostura ao estilo de “neste comboio só se viaja com bilhete, ponto final!”. Expliquei-lhe que nunca fora minha intenção enganar ninguém, que pedira autorização para embarcar, mas era escusado: preto era preto, branco era branco, e eu não tinha bilhete, logo levava multa: era assim que ele via a situação. Para rematar disse-me que teria duas horas para pagar a multa no guichet, e que onde eu arranjaria o dinheiro era problema meu, porque naquele comboio só se viajava com bilhete, etc, etc, etc... Estava em maus lençóis, pronto!
NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

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