sexta-feira, 14 de novembro de 2014

O caminho é mais fácil com uma equipa vencedora!

Quando a minha viagem louca acabou, estimei em 3 a 4 meses o tempo necessário para editar o livro... como estava errado! Como se organiza o texto? Como combinar os tempos verbais? No presente ou no passado, primeira ou terceira pessoa? Quantos capítulos, quantas páginas?... Depressa percebi que iria ser MUITO mais difícil do que um artigo de jornal ou trabaho de investigação: seria uma aventura!

Pelo caminho aprendi a redigir textos looooooonngos, aprendi a paginar, a rever e a estruturar capítulos, epílogos, prólogos e dedicatórias, folhas de rosto e falsas folhas de rosto, tirei quase um curso de auto-publicação e aprendi a gerir melhor as redes sociais. A quem me perguntou expliquei, repetidamente, que o livro custou bem mais que a viagem... é verdade! Não fôra a Paula e ainda estaria encalhado à espera da inspiração... E, por falar em inspiração, ainda houve uma boa mão-cheia de dias em que, computador à frente, nada saía da mente cansada!

Um ano e dez meses depois, eis que tudo foi ultrapassado: fiz hoje a primeira encomenda de 1.000 livros, que espero vender em poucas semanas. Sim, escrever o livro foi um desafio, fazê-lo chegar ao mercado também, mas o desafio maior é o próximo: fazê-lo chegar a muitos pelo Mundo fora! Isso é, realmente, o objectivo de um livro, fazer-se conhecer por muito, espalhar o seu encanto por tantos... Isso é o mais importante, e será um desafio titânico!

Apesar disso, nunca o meu trabalho foi tão fácil: depois de uma viagem sozinho, depois de uma livro criado com uma pequena equipa de gente louca como eu, espalhar o livro por aí será bem mais fácil, pois para isso conto com uma equipa vencedora... VOCÊS!

Temos centenas de livros para distribuir: vamos a isto, vamos juntos transformar o Pé Descalço num sucesso!!!
A nossa (minha e vossa) aventura vai agora começar!

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Estamos grávidos! (by Mafalda Frade)

Enquanto escrevia o livro fui descobrindo que estava a contar uma história com uma forte mensagem de clareza e esperança. A quem, como eu, se sente tentado a olhar para o Mundo e a achar que somos demasiado condicionados pelo que tem que ser, pela carreira obrigatória, por tudo o que os outros esperam de nós, fui dizendo que há mais do que os olhos alcançam!

O que hoje vos trago, porém, é um texto que ultrapassa tudo o que fui dizendo no livro. 
Escrito por uma "menina" de seu nome Mafalda Frade, minha prima, é provavelmente um dos mais fantásticos que alguma vez li. 
Partilho-o convosco porque (como lhe disse a ela) o mundo anda louco, mas ela (eles!) souberam bem escolher outra via.
Mafalda e Ricardo... os meus mais sinceros parabéns!




Estamos ‘grávidos’.
Pois é, vem aí uma nova Maria. Que traz consigo já, nas 25 semanas de vida que leva, algumas histórias para contar. A maior delas partilha-a com a mana mais velha, ainda que não saibamos se com o mesmo desfecho. Começa sensivelmente a meio de julho, com o chamado rastreio pré-natal, teste que revela as probabilidades de o bebé ter trissomia 21, 13 ou 18, permitindo aos pais, caso queiram ter certezas, realizar a amniocentese (para decidir o que fazer, ou seja, basicamente, abortar ou não). É um exame invasivo que envolve riscos, como o de aborto espontâneo (cerca de 1% das crianças morre) ou de infeções uterinas. 

Tal como aconteceu com a Maria Carolina, o teste indicou uma probabilidade maior que o normal de esta nossa filhota ter síndrome de Down. Quando da gravidez da Carolina, e porque tínhamos decidido, ainda antes de casar, que aceitaríamos os filhos que tivéssemos como eles viessem, decidimos não fazer a amniocentese porque não queríamos colocá-la em risco quando já tínhamos decidido que a queríamos nos braços fosse deficiente ou não (o que seria de mim hoje se a Carolina não tivesse sobrevivido ao exame?). No caso dela, nasceu sem qualquer síndrome.

Confrontados agora com o que já tínhamos vivido, voltámos a tomar a mesma decisão: não faríamos a amniocentese porque não queríamos pôr a nossa bebé em risco. Não precisamos de saber como ela é. Queremo-la como for. E sentimo-nos muito tranquilos na nossa decisão. Temos vivido estas semanas sem quaisquer dramas a esse nível, tranquilos e a AMAR já imensamente esta filha que trago dentro.

Mas há uma coisa que me inquieta: é ter ido a duas consultas médicas em que os médicos, porque recusei a amniocentese, olharam para mim como se eu fosse uma anormal, numa incredulidade que me espantou. Como se aceitar um filho mesmo com a probabilidade de ele ser deficiente fosse próprio de uma pessoa que não bate bem da bola. Como se amar um filho acima de tudo fosse estranho. 

É que, percebi, a lógica de muitos médicos é que se deve fazer a amniocentese para ter a certeza e poder abortar, se a bebé for deficiente (descobri que cerca de 80% das mulheres que têm um filho com síndrome de Down abortam). E muitas mães, ao recusarem, são quase coagidas por eles para fazerem o teste, soube depois pelos testemunhos de algumas amigas e conhecidas, que se viram aflitas para manterem a sua posição de recusa.

No meu caso, tive a sorte de ser tão taxativa na primeira consulta que a médica não soube muito como insistir. Mas olhava para mim de tal forma incrédula que confesso que me senti como se estivesse numa fábrica de bebés, em frente a uma passadeira rolante, a vê-los sumirem-se numa máquina e a saírem de lá com o destino traçado: ‘Não tem defeito, siga. Tem defeito, lixo.’ E uma enorme pilha de bebés amontoados atrás…
Na segunda consulta, a médica só nos cumprimentou e o diálogo que se seguiu foi este:
‘Já sei…’ (a olhar para nós num misto de constrangimento e curiosidade)
‘Já sabe o quê, Dra?’
‘Já sei… Do teste…’
‘Ah, pois, o teste. Nós não quisemos fazer a amniocentese.’
‘Pois, também já sei…’ (continuando a olhar para nós num misto de constrangimento e curiosidade)
E eu a sentir-me de novo na fábrica de bebés… 


Parece que, nesta sociedade em que vivemos, tudo o que possa ter ‘defeito’ é para descartar como se não tivesse préstimo nenhum. A eugenia no seu melhor, dizia-me uma amiga depois. E soube também que terei tido azar nos médicos que me calharam, porque muitos não pensam assim. Mas que os há, há.

Enfim, fiquei com a sensação de que, se esta bebé tiver esta síndrome, a grande luta não vai ser educá-la, nem lidar com os problemas de saúde que ela possa vir a ter. A grande luta vai ser lidar com o preconceito, com a forma como a sociedade reage perante crianças diferentes. 

Quando leio comentários que dizem que não vale a pena trazer ao mundo uma criança assim porque não vai viver com dignidade, vai andar cheia de doenças e lhe vão chamar ‘atrasada’ a vida toda, fico chocada. Chocada. Porque a dignidade de uma pessoa depende, em muito, da forma como é tratada pelos demais. Porque as doenças tratam-se, minimizam-se e todos as temos. Porque muitos de nós tivemos de lidar a vida toda com gente a chamar-lhe nomes (a começar por mim, que ser inteligente acarretou esse tipo de dissabores) e não é por isso que não estamos cá, inteiros e de pé.

Ter síndrome de Down não é uma sentença de morte. Eu conheço um atleta paraolímpico com esta síndrome (quantos de nós o bateríamos numa piscina?) e outros que trabalham e se sustentam. A esperança média de vida não é muito alta (40 a 50 anos), mas não deixam de poder chegar à idade adulta e de eventualmente poderem contribuir para a sociedade em que se inserem e que tantas vezes os terá maltratado.
A probabilidade de a minha menina ter síndrome de Down não me assusta. Terá uma mamã e um papá que farão o melhor por ela. E uma Família inteira por trás que nos apoia i-n-c-o-n-d-i-c-i-o-n-a-l-m-e-n-t-e na nossa decisão, como já nos apoiou quando enfrentámos esta situação com a Carolina. Nos dizeres de uma mamã com uma filha com Down, temos em nós o ‘cromossoma do Amor’.

A minha amiga Ana um dia, a propósito disto (querida Ana, que tens palavras que criam raízes fundas no meu coração), disse-me: “É bom ver que tu não tens medo de outro tipo de perfeição”. E não tenho mesmo. Nem tenho a pretensão nem a arrogância de achar que a perfeição do meu corpo é melhor que a Perfeição do corpo da minha menina. Sei só que a quero muito cá fora, nos meus braços, venha como vier. E o futuro será escrito no seio de uma Família que a ama como ela é.

Aos meus amigos gostava de pedir alguma coisas. Se ela tiver síndrome de Down, não nos lancem olhares de comiseração nem de constrangimento. Não chorem, não nos lamentem, não nos critiquem por a querermos independentemente de tudo. Não façam deste assunto tabu, evitando falar dele connosco, tirar dúvidas, ajudar. Antes, alegrem-se porque somos abençoados com uma dádiva que muitos querem e não têm: ter filhos. E alegrem-se porque a nossa menina será imensamente amada. E, no que depender de nós, será imensamente feliz. O que pode uma pessoa mais querer desta vida?

Mafalda Frade


domingo, 12 de outubro de 2014

Há uma primeira vez para tudo… até para editar um livro! (by Paula Lobo)

Concentradíssima, a editar o livro!
10 de Julho de 2013. Este podia ter sido um dia como outro qualquer. E, em boa verdade, o dia em si, até foi. 

À data, eu trabalhava como Gestora de Marketing e Comunicação da Delegação de Braga da Cruz Vermelha Portuguesa, instituição para a qual reverteram parte das receitas do Ignite realizado na Cidade dos Arcebispos. Por esse motivo – profissional – aliado ao meu interesse pessoal por este tipo de eventos, fui até ao GNRation nesse final de tarde.  

Depois de algumas apresentações interessantíssimas (e outras nem tanto, verdade seja dita), surgiu o Ricardo Frade. Um tipo com ar tresloucado que sobe ao palco para, com um entusiasmo notável, contar que tinha vindo da Suécia para Portugal sem dinheiro. Lembro-me de rir, e de comentar com o Coutinho (um amigo que me acompanhou a este evento), aquando do quinto slide, que “este gajo” era “maluco!”. A terminar a sua intervenção, o Ricardo diz que vai iniciar a fase de escrita do livro, e que se alguém na sala estivesse disposto a ajudá-lo na tarefa de edição, era muito bem-vindo. E depois diz algo como “ali está uma menina! Já vamos conversar!”. A “menina” era eu. Eu tinha erguido o braço, sem pensar. Quando me apercebi dos rostos sorridentes voltados para mim entrei em pânico, baixei o braço e olhei, desesperada para o meu amigo. “Eu nunca editei um livro!”, disse-lhe. E ele, com a sua racionalidade característica, acalmou-me até chegar o momento de falar com o Ricardo.

Só mesmo depois do término de todas as apresentações é que conversámos, o que me deu tempo mais do que suficiente para ensaiar o discurso: “olhe, antes de mais parabéns pela apresentação, e pelo projecto todo, que é interessantíssimo! Espero que tenha muito sucesso, mas eu não devia ter erguido o braço. Não tenho a experiência e o know how de que precisa”. Quem conhece o Ricardo a esta hora está a rir e a pensar “oh rapariga a quem tu foste dizer isso!”. O Ricardo respondeu-me “então mas qual é o problema?”. “Nunca editei um livro”, confessei. “E depois? Eu também nunca tinha vindo da Suécia para Portugal sem dinheiro!”. Fitei-o, atónita, e completamente desarmada. “Diz-me lá, tens sensibilidade para isto, não tens? Eu preciso de alguém que perceba alguma coisa de edição de texto!”. “Bem, eu percebo alguma coisa. Quanto mais não seja porque faz parte da minha formação académica…”. “Que é?”, Inquiriu-me. “Comunicação. Escrevo textos com regularidade/facilidade. Já editei quase todo o tipo de textos. Jornais, revistas, newsletters… mas nunca um livro inteiro!”. “Boa! Vai ser uma grande experiência então”.
E está a ser. MESMO!
Paula Lobo, orgulhosamente ‘editora’.

sábado, 27 de setembro de 2014

A eterna aventura de escrever um livro!

Estamos a apenas algumas semanas de lançar este que é para mim como um bebé... Confesso que o mix de sensações é absolutamente novo para mim! O dia em que vi a capa pela primeira vez foi fantástico, o dia em que fechámos o texto foi especial, o dia em que percebi que estamos em condições de lançar o livro e que consegui resposta de grandes personalidades foi um sonho! O post de hoje é uma comemoração, um salto de alegria, uma gargalhada desbocada de quem conseguiu chegar tão longe!... 

Deixo-vos por isso as fotos, do trabalho a solo em casa e nos locais, à loucura do trabalho em equipa, com a Paula e os outros que connosco trouxeram o Pé Descalço até aqui... HOJE É DIA DE COMEMORAR!!!


 

sexta-feira, 29 de agosto de 2014

Dia 12 - Adeus, Paris! (excerto do primeiro esboço do livro!)

Um quarto de hora depois estava de novo na Gare d’Austerlitz. Dirigi-me à bilheteira, onde encontrei a menina que me atendera dois dias antes. “Conseguiu o dinheiro?”, perguntou. “Sim!”, respondi, e enquanto o diabo esfrega um olho recebi um bilhete para um “sumptuoso” lugar sentado no Intercité de Nuit para Irún. Sim, muito ficariam de nariz torcido por não ser uma cama, mas eu não:  TINHA UM BILHETE PARA SAÍR DE PARIS, para seguir para Sul, e isso era tudo o que me interessava, era o que mais queria! Agradeci a gentileza com que me atendeu, peguei nas minhas coisas e fui até ao piano: se há dois dias ele servira para escoar as minhas dúvidas e ânsias, hoje servia para espalhar a alegria que sentia! Toquei durante uns bons quinze minutos, até sentir fome. Eram cerca de 19h, estava na hora de atestar a barriga. “Vamos lá procurar uma solução!”, pensei, sorridente.

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

Dia 11 - Ainda Paris... (excerto do primeiro esboço do livro!)


O "canto dos que pedem boleia"!
Devo confessar que estava a ficar preocupado: depois de andar a todo o gás pela Suécia, Alemanha, Holanda e Bélgica, e até França, parando apenas porque eu queria, ali estava eu “encalhado”! Caramba, seria assim tão difícil sair de Paris para Sul?! Que raio se passava?! Para ajudar à festa a barriga estava outra vez a queixar-se, e com razão: em 24h só comera uma sandes, um pacote de bolachas e três iogurtes, apesar de ter andado quilómetros a fio com a tralha às costas! Eram estes os meus pensamentos no momento em que decidi mudar de sítio e procurar uma solução para o almoço, e foi neles que fui remoendo enquanto subia a rua... até que me apercebi: “espera aí, tu estás a ter pensamentos idiotas e derrotistas, estás a queixar-te e a gastar energia com o problema e não com a solução... PAROU!”.
Controlar o que penso, detectar auto-conversas destrutivas e padrões de pensamento nocivos, que me levem num rumo diferente do escolhido, tudo isto são hábitos que criei nos últimos anos e ensino aos meus clientes. Nenhum atleta começa a maratona a pensar “vai ser horrivelmente difícil, vai doer MUUUIIIITTTTOO e vou perder!”, porque se o fizerem estão arrumados. Qual é a solução? Pensar no que queremos, direcionar o pensamento para a busca da solução e, se no limite o sentimento persistir e nos fizer voltar ao caminho errado, falar alto connosco próprios, desvalorizando e/ou ridicularizando o problema e auto-convencendo-nos (é mais fácil se nos ouvirmos realmente) de que vamos dar a volta. Foi o que fiz, tal era a intensidade do sentimento de azar e derrota: “Vá lá, deixa-te de fitas! Fizeste já mais de 2.600 kms, encontraste sempre soluções, pessoas e recursos. Aqui a cultura é diferente, sim, e isso causa confusão e vai obrigar-te a encontrar novas soluções, mas, que diabo!, abre os olhos e procura-as, só assim as encontras. Elas andam aí, de certeza!!! Por isso anima-te, faz um sorriso, endireita-te e levanta a cabeça, hás-de descobrir o caminho, ele aparecerá como até aqui!!”. Imaginam o que pensariam os outros transeuntes ao ouvir-me falar alto, rua fora? As caras de espanto deixavam antever que alguma reprovação social deveria haver, pelo menos, mas sabem que mais? Eu não queria saber! Se a minha felicidade dependesse do que os outros pensam de mim estava a abdicar da minha vida para as vontades dos outros! Além disso eu sabia que funcionava, ponto, e sabia que fora da zona de conforto é que encontraria as soluções, e foi com este espírito que continuei em direcção à igreja. 
NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

terça-feira, 26 de agosto de 2014

Dia 10 - Paris e uma mão cheia de "não" (excerto do primeiro esboço do livro!)


Quinze minutos depois começou uma azáfama de pedidos e explicações: durante quatro horas alternei entre esperar, tocar piano (sim, também aqui havia um), explicar a minha história a revisores e chefes de comboio e ouvir, invariavel-mente, um “non” como resposta. Pelo meio tive ainda tempo para dar o meu lugar ao pai de uns meninos pequenos que se tinham sentado ao meu lado, de ler mais uns quantos capítulos do meu livro, de voltar à bilheteira para me aquecer e tentar a sorte com outro funcionário (sem resultado), e de recordar da eterma estratégia que aprendera nos EUA: recebes um "não", agradeces e dizes para ti próprio “Next!”. 
Foi assim até ao último comboio: Hendaye, Bourges, Tours, Toulose, Brive la Gallarde, Albi, Luchon, Tarbes e outros tantos destino para onde eles partiam um a um sem mim... Até o Elipsos para Barcelona tentei, mas nada feito: à meia-noite e meia saiu o último comboio, e eu ainda estava em Paris... e agora?
Sentei-me na sala de espera da gare, agora vazia, a pensar na minha vida e no que iria fazer a seguir. Contabilizei dezassete “nãos” ao longo do dia, o que era um record absoluto, e se era verdade que tinha sobrevivido também era claro que assim não iria a lado nenhum. Saboreei por isso as bolachas que sobravam e decidi ficar por ali: pelo menos estava num sítio calmo, minimamente limpo, quente e seguro, e isso eram luxos que não poderia desperdiçar! Recostei-me na cadeira e preparei-me para dormir... achava eu! Dez minutos depois ouvi atónito o anúncio no sistema de som: “é uma da manhã e a estação vai fechar. Pede-se a toda a gente que saia”... o quê? A estação fechava e toda a gente era posta na rua?! Com aquela é que eu não contava! Perguntei à senhora das informações se era mesmo assim, ao que me respondeu que sim, que teria que deixar o edifício entretanto. E foi assim que me vi na rua, em Paris, à uma da manhã e sem fazer a mínima ideia de onde poderia passar a noite... Seria esta a minha primeira noite na rua? “Não”, pensei, “nem penses!”.
NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

segunda-feira, 25 de agosto de 2014

Dia 9 - Antuérpia. Lille e Paris (excerto do primeiro esboço do livro!)



Enquanto esperava que o revisor me desse o bilhete, na ponta da carruagem, chegou ao pé de nós uma senhora que lhe pediu para a ajudar a encontrar o lugar. Ele deixou-me ali e acompanhou-a ao lugar, na carruagem seguinte, e foi aí que a coisa descambou. Aproximou-se de mim outro revisor, que não tinha assistido à conversa, e pediu-me o bilhete. Expliquei que não tinha, ao que ele respondeu que mo tirava, pegou na maquineta e perguntou para onde ia. Eu expliquei-lhe que estava à espera do colega dele, com quem tinha falado, mas ele insistiu em tirar-me o bilhete. Foi então que lhe expliquei que não tinha como lhe pagar, que tinha falado com o chefe do comboio e que o colega dele estava ao corrente da situação. Ele fez uma cara muito feia, e disse com voz irritada que eu não podia viajar sem bilhete. Insisti que o chefe do comboio e o colega revisor estavam ao corrente e pedi-lhe que falasse com eles, ao que ele pegou no telemóvel e desatou a falar francês com eles àquela velocidade especial que eles usam e que impede um estrangeiro de perceber o que quer que seja. Depois pediu-me para não sair dali (como se eu fugisse de um comboio a mais de 300 km/h!) e foi até à carruagem da frente. Voltou pouco depois para me pedir o passaporte. Vinha com cara de poucos amigos, e a irritação que demonstrava indicava que vinham aí sarilhos. Dei-lhe o meu cartão de cidadão, que ele rejeitou por não ter morada, pedindo um documento que tivesse. Expliquei-lhe que não tinha e que o cartão de cidadão era válido na União Europeia, ao que ele me perguntou a morada de residência e começou a escrever na maquineta dos bilhetes. Poucos minutos depois passou-me um papel que percebi ser uma multa, de 98€, deu-me uma descompostura ao estilo de “neste comboio só se viaja com bilhete, ponto final!”. Expliquei-lhe que nunca fora minha intenção enganar ninguém, que pedira autorização para embarcar, mas era escusado: preto era preto, branco era branco, e eu não tinha bilhete, logo levava multa: era assim que ele via a situação. Para rematar disse-me que teria duas horas para pagar a multa no guichet, e que onde eu arranjaria o dinheiro era problema meu, porque naquele comboio só se viajava com bilhete, etc, etc, etc... Estava em maus lençóis, pronto!
NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

domingo, 24 de agosto de 2014

Dia 8 - Antuérpia, um dia de descanso, passeio e partilha (excerto do primeiro esboço do livro!)

As compras no Lidl foram muito parecidas com as nossas por cá, excepto no facto de eles não terem carrinhos nem cestinhos: na prática agarra-se numa caixa de cartão vazia que esteja à mão e pronto, colocam-se as coisas lá dentro e reza-se para que não se desfaça. Muito estranho!... 
Foi de caixa em punho que parti à descoberta do que seria o jantar, num processo que o meu miúdo mais novo adora: “Estás a escolher ao calhas?!”, pergunta ele ao ver-me tirar coisas das prateleiras por impulso, como que por inspiração, de uma forma aparentemente aleatória. “Não”, respondo, “estou a deixar a imaginação fluir, até porque ao olhar para os ingredientes percebes se são frescos e vais construindo os pratos com base nisso também!”. Não, não sou nenhum Gordon Ramsay ou Jamie Oliver, mas gosto de inventar na cozinha e de construir os pratos por impulso e feeling mais do que por receitas. Tipicamente ou resulta muito bem ou... enfim, esqueçam. Neste caso fui observando o que poderia usar para uma sopa fora do espectro das sopas enlatadas que Bianca usava, e os espinafres “saltaram ao olhos”. Cenouras, batata, cebola, alface, alho e arroz completaram as compras, com a proteína a ficar a cargo de uns bifes de perú. Bianca confiou simplesmente em mim, juntou algumas coisas que precisava, e em menos de quinze minutos estávamos outra vez à chuva (agora miúda) a caminho de casa. A colega dela chegaria entretanto, pelo que fui adiantando o jantar para termos oportunidade de conversar. Fiz uma sopa de espinafres (com puré à base de batata, cenoura e cebola), tão simples que até parecia mal, e para completar a refeição salteei a carne de perú (strogonoff sem natas e com pouco ou nenhum azeite), com vários temperos que juntei por instinto, como sempre, acompanhando com arroz e uma salada de alface fresca. Muito dirão que é tudo menos comida gourmet, mas têm que admitir que é muito próximo da nossa forma portuguesa de cozinhar e, convenhamos, face a um arsenal de conservas até parecia gourmet! Quando a colega dela chegou o jantar estava em “roda livre”, com tudo a cozinhar calmamente e o cheirinho da comida a encher a casa. Raro, por ali!
NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

segunda-feira, 10 de março de 2014

Dia 7 - De Malmo a Antuérpia, na Bélgica (excerto do primeiro esboço do livro!)




"Vilnis ofereceu-se para dividir o seu almoço comigo, generosidade que aceitei, sem saber bem o que é significava... onde raio é que ele tinha o almoço? Descobri pouco depois, quando o vejo tirar um fogão (sim, daqueles de campanha, com um bico apenas) de um armário e a montá-lo no meio da cabina! Abriu o tecto de abrir, no topo do camião, à laia de chaminé, pegou numa panela, em algumas caixas de plástico que estavam no frigorífico, cortou uns legumes frescos, juntou água e voilà, sopa de carne ao lume!
 
Já alguma vez vos disse como odeio sopa de carne?... Pois bem, ali estava eu com ela à frente, preparado para mais um passo fora da caixa. Só não sabia o que me esperava! Ao meter uma colher de sopa à boca tive uma epifania culinária: como é que raio aquilo podia ser TÃO BOM?! Sim, era sopa de carne; sim, tirávamos os pedaços de carne para um prato e comíamos à mão entre as colheradas de caldo; e sim, o sabor era fabuloso! E tinha sido feita num camião... Onde é que esta receita tinha andado toda a minha vida?! Escusado será dizer que comi e chorei por mais. Mas além do sabor em si houve outra coisa que me aqueceu o coração: aqui estava aquele homem, que nunca me vira, e que decidira partilhar o seu espaço, o seu dia e a sua comida comigo, de forma totalmente altruísta e despreocupada... Marcou-me a sua generosidade, a sua transparência e a forma humilde como tudo aqui se estava a passar. Muito obrigado, Vilnis, muito obrigado!"

quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Dia 6 - De Malmo a Travemunde, já na Alemanha (excerto do primeiro esboço do livro!)

" Acabei por voltar ao piso 6 do ferryboat, que agora estava deserto, e decidi espreitar a sauna (coisa que nunca havia experimentado!). Apercebi-me nessa altura que, ao contrário do que eu pensara, a sauna estava a funcionar e era gratuita! E, além disso, descobri que havia um balneário com CHUVEIROS!! E eu sem tomar banho há mais de um dia e com o corpo cansado e “melado” de um dia a correr com a tenda às costas e a suar que nem um bicho!! Voltei ao piso 4, peguei nas minha coisas e corri literalmente para o balneário. Despachei toda a roupa suja para o saco respectivo, preparei uma muda de roupa lavada, guardei tudo no cacifo e parti à descoberta da sauna... foi óptimo! Depois de destilar uns bons dez minutos tomei um duche ligeiro e voltei à sauna, para ter a certeza que o meu corpo aproveitava o memento! O passo seguinte foi um duche a sério, com o meu sabão azul a fazer com que me sentisse o homem mais limpo do mundo! Como aquilo era bom: água quente e fria à descrição, sabãozinho a fazer espuma e uma muda de roupa prontinha à minha espera! Estava no céu! Escusado será dizer que passei cerca de uma hora neste ritual todo, e quando voltei por fim ao piso 4 despachei as últimas bolachas, acomodei as minhas coisas, peguei na almofada insuflável e no saco cama (foi a primeira vez que os usei) e caí redondo a dormir no sofá da sala de convívio."

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final. 

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Dia 5 - de Estocolmo a Malmo (excerto do primeiro esboço do livro!)


"Acordei num quarto quente... uau, que sensação deslumbrante! Nesta altura já tinha descoberto quão grandioso este facto pode ser, por isso o meu dia não podia começar melhor! Mas podia...
Ao subir à sala de jantar deparei-me com a mesa de pequeno-almoço repleta de coisas boas: pão deste tipo e daquele, pacotes de litro de iogurte deste e daquele sabor (blueberry, sem dúvida o melhor!!), manteiga, queijo, caviar em bisnaga, e aquela vista fabulosa que agora se enxergava em pleno (ao contrário do vislumbre que tivera ao jantar)"

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final.

domingo, 9 de fevereiro de 2014

Dia 4 - Em Estocolmo (excerto do primeiro esboço do livro!)


"Esperavam-me Niclas e as meninas, que apenas conhecia do facebook, um lar quente, moderno e acolhedor e umas “sandochas” gigantes, DELICIOSAS! Ah, e no andar de baixo um quarto com uma cama só para mim, e um chuveiro... com chão aquecido! Foi talvez o duche mais maravilhoso da minha vida, e aqui se começou a desenhar uma das principais conclusões desta viagem: já temos muito mais do que pensamos! Nem nos apercebemos, mas um simples duche quente que tomamos como algo adquirido na nossa sociedade, é uma coisa MARAVILHOSA! Só quando perdemos a possibilidade de o tomar é que entendemos verdadeiramente o dom que representa, e asseguro-vos: tomar banho será sempre, daqui em diante, um acto de consciente alegria e regozijo! Viva o duche de água quente!!!"

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

Dia 3, de Skelleftea a Estocolmo (excerto do primeiro esboço do livro!)

"Pi-pi, pi-pi, pi-pi... são duas da manhã!, como que sussurra o meu relógio. Dei um salto na cadeira, peguei na mochila e afins e fui até à gare exterior, onde o comboio chegaria em cinco minutos. Ah, já referi que estava frio?... Pois bem, os cinco minutos de espera foram a situação fisicamente mais extrema que passei na viagem, ou melhor, na minha vida! Se durante o dia tinham estado -20ºC e a temperatura já era bem mais baixa quando tinha estado à espera do Y-bus, agora estava mesmo mesmo mesmo MUITO frio... cerca -30ºC, estimei na altura. Em um minuto tremia como varas verdes, pelo que decidi andar pela gare em passo bem acelerado para aquecer. Foi em vão: quando o comboio chegou eu sentia-me fisicamente muito estranho e encolhia conscientemente a língua para não me cortar tal a violência com que batia descontroladamente os dentes! Nunca sentira nada parecido, não sei se estava em hipotermia ou só lá perto, mas que era algo assustadoramente novo, era! Procurei o revisor e tentei explicar-lhe a história, mas foi uma tentativa no mínimo hilariante: eu tentei falar, sim, mas não consegui articular as palavras direitas, só batia os dentes! Ele lá percebeu que eu queria ir para Estocolmo mas que não tinha bilhete nem dinheiro, pelo que me explicou que assim não podia embarcar, mas eu não estava disposto a desistir: dizem que é quando estamos no limite que a nossa verdadeira força se solta, pelo que pedi outra vez que me deixasse seguir viagem! Pedi, simplesmente: já não se tratava de contar a história ou de ele gostar do projecto, tratava-se de eu sobreviver e sair dali ao mesmo tempo, que era o que mais queria! Talvez por me ver naquele estado, ou por me ver tão determinado a ultrapassar aquela situação, o revisor mudou de ideias: mandou-me entrar, disse-me para procurar um lugar vazio e explicou que passaria para falar comigo depois... Se passou ou não não sei: sei apenas que encontrei dois bancos livres, poisei as minhas coisas, tirei umas fotos, tomei umas notas no caderno, cobri-me com o saco-cama e encaixei-me meio torcido entre a janela (e o aquecimento por baixo dela) e o apoio de braço... Adormeci em poucos minutos."

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final.

sexta-feira, 7 de fevereiro de 2014

Dia 2, chegada a Skelleftea (excerto do primeiro esboço do livro!)



"Fui à procura de uma solução para almoçar, que a fome apertava e Nestum não era almoço digno. Comecei por propor na cantina da universidade umas horas de trabalho em troca de uma refeição... não. Aliás, “não” era uma palavra que me acompanharia durante a viagem, à qual há muito aprendera a resistir e a ultrapassar com uma simples palavra inglesa, “next!” (próximo!), pelo que atravessei novamente a ponte e decidi fazer a mesma proposta em restaurantes da cidade. 

Comecei por fazê-lo num restaurante de sandes: “Olá, chamo-me Ricardo, sou de Portugal e estou a fazer um projecto... blá, blá, blá (como vocês já sabem). É possível trabalhar aqui uma ou duas horas em troca de uma refeição?”. 
A menina simpática que me recebeu pediu que explicasse outra vez, conferenciou com a colega em sueco, e acabou por me explicar que não podiam aceitar... podiam era dar-me uma sandes, se eu achasse bem! “Por mim pode ser!”, e foi quase a babar-me que a vi encher um pão enorme de tudo o que havia na bancada!!! Sim, ter apenas uma refeição de Nestum na mala muda a forma como vemos o mundo, faz-nos sentir MESMO o que significa não ter o que comer, não saber o que se vai comer... Passa a ser algo real e muito palpável, pelo menos para mim passou, e levou-me a olhar para a minha vida e a agradecer tudo o que tenho e que assumo como garantido de uma forma diferente, com uma gratidão real e profunda! E já agora, a agradecer às meninas simpáticas que ali me ajudaram como não imaginam!!"

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final... É só para aguçar a curiosidade! 

quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Dia 1 (excerto do primeiro esboço do livro!)


Eram 3:30 quando o relógio despertou freneticamente, relembrando a hora de zarpar. O corpo lá respondeu, que depois de meia-hora de sono ainda nem tinha arrefecido, e a mente começou a processar todos os detalhes, tarefas e coisinhas que a fazer antes de sair. Estava na hora, a grande viagem estava a começar.
Pequeno-almoço tomado, tralha reverificada, mochila às costas, casaco e calças de bolsos cheios (que a Ryanair a isso obriga), e lá seguimos para o aeroporto. O sono ainda pesava aos miúdos, que pelo caminho foram dormitando, mas não a mim: cá dentro sentia bem forte que agora era o dia e a hora da aventura que mudaria as nossas vidas, o dia e a hora em que passaria da teoria à acção, era HOJE. E se por um lado o entusiasmo era indescritível, por outro lado confrontava-me pela primeira vez com a real dimensão do que me propusera fazer, com a adrenalina de ver chegada a hora do tudo ou nada. Ao sair de casa, colocando a mochila no carro, sabia que desse por onde desse chegaria de volta são e salvo, isso não me preocupava: a questão era “Como?...”. Essa questão, porém, ocupou-me a mente só ao de leve, pois no fundo o que importa é o que vamos fazer, o como acaba por surgir, como se de um GPS se tratasse: dizes-lhe o destino e o percurso aparece. Como tudo isto é uma certeza para mim decidi concentrar-me no objectivo e pronto: voar para Skelleftea, no norte da Suécia e voltar inteiro, sem computador, telemóvel ou dinheiro!

NOTA: este texto é apenas um excerto do primeiro esboço do livro, não o texto final... É só para aguçar a curiosidade!

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Quase um ano depois!...

Há um ano atrás o meu quarto tinha o aspecto desta imagem da capa, eu andava numa correria e preparava-me para uma das maiores aventuras da minha vida.

Hoje, com o livro quase terminado, o desafio é diferente: escrever, rever, editar, corrigir, publicar, publicitar, fazer chegar ao grande público, encontrar editora interessada em publicar cá e em todo o mundo... tudo coisas pequenas e fáceis, que nada puxam pelo me engenho!

Agradeço a todos os que me têm apoiado e incentivado para levar o projecto a bom porto, e agradeço os feedback positivos que tenho tido de quem leu já um pouco do livro... ESTOU QUASE LÁ!

Para relembrar esta viagem mítica vou lançar uma foto por dia, com um pequeno excerto do dia em causa... para aguçar o apetite! Boas leituras!!