quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

O Sol também brilha aos quadradinhos!

Há uns meses fui convidado pela Júlia, uma antiga colega da “minha” Sofia, para fazer uma apresentação do Pé Descalço às alunas dela, na prisão feminina de Santa Cruz do Bispo. Aceitei com muita curiosidade, porque não sabia que realidade iria encontrar, de que forma iriam reagir, ou sequer se a mensagem que levava seria aceite por elas. Seria a minha primeira vez numa prisão (passava-se o mesmo com a Amélia), por isso também havia uma sensação de poder devolver algo à sociedade, devolver parte do que recebi nos últimos anos, ajudando alguém a melhorar a sua vida (não é esse, afinal, o espírito do Pé Descalço?).

Tal como nas outras apresentações, carregámos toda a tralha no carro e partimos. À nossa espera encontrámos a mesma Júlia sorridente e bem disposta de sempre, que nos explicou que havia naquela população de reclusas um pouco de tudo: a quem tenha ensinado a ler, a quem preparasse para entrar na universidade, a quem ajudasse a consolidar conhecimentos… Percebi que aquele era um contexto em que um professor é testado ao limite, pelo menos no que toca à capacidade de ensinar de tudo um pouco, e isso só me deu mais vontade de fazer aquela apresentação. 

Passado o detetor de metais e a revista, que afinal é de uma prisão que se trata, fomos conduzidos por uma série de corredores a uma sala com cadeiras e a exposição de parte dos trabalhos/projetos que elas tinham cumprido nesse ano. Passado um pouco começaram a chegar, com ar curioso, algumas mais desconfiadas que outras, mas todas com algo em comum: são pessoas como nós, que em algum momento da vida fizeram escolhas diferentes das socialmente aceites, das lógicas e das aceitáveis, e que por isso acabaram ali. Por cada cara daquelas havia uma história, um contexto para essa história, um conjunto de fatores que, também eles, contribuíram para o desfecho dessa história… afinal quem era eu para sequer imaginar do que se tratava?! Senti um profundo respeito por cada uma, até porque muitas já tinham passado bem mais do que eu, na sua vida, e foi com esse respeito que comecei a contar a minha história.

Foram 50 minutos de grande emoção, de grande partilha e de grande abertura ao bem que o outro tem dentro de si. Choveram perguntas, das mais fáceis às mais recônditas, e uma a uma construímos ali um contexto de confiança e tranquilidade que, espero, as possa ajudar a olhar a vida de forma diferente. Saliento uma das coisas que mais foi falada, questionada e martelada: as escolhas. Porquê? Como? E como mudar? Como se faz? Como se escolhe a direção da mudança? Como se começa?! Para cada uma havia uma pergunta, e para todas a minha resposta (que vale o que vale, apenas!…). 

No final houve gente que não sabia ler que quis comprar o livro, provavelmente uma ferramenta que serve para despertar para a leitura e a sua aprendizagem… Houve quem contasse histórias do que queria (iria!) fazer ao sair dali, das coisas que aprendera (naquela hora ou no tempo passado atrás das grades), das dúvidas que ainda tinha, dos medos que conservava… Nada que um lanche final não ajudasse a fechar com chave de ouro! Ah, e vendemos mais livros que em algumas escolas ditas “normais”…

Sobre esta visita tenho, por isso, vontade de deixar três ideias essenciais: 
  1. Um sistema prisional centrado em castigar é uma idiotice na maioria dos casos, pois não ajuda estas pessoas a mudar para uma versão melhor de si, antes perpetua o ciclo da exclusão e incompreensão;
  2. Um sistema centrado em reabilitar pessoas precisa de ter por base o apoio à descoberta de si mesmo, dos sonhos, dos anseios e medos, e de estratégias para colocar “tudo nos eixos” na vida de quem passa por lá;
  3. Um Pé Descalço, como uma conversa, uma mentoria, alguém que inspire, podem MESMO fazer a diferença na vida de QUALQUER pessoa, independentemente do sítio onde está ou da situação de que parte. Basta querer a mudança, e a mudança tenderá a começar a acontecer! 
Esta foi uma experiência única e marcante. Valeu a pena, fica a vontade de repetir, haja outras Júlias em outras prisões e contextos difíceis. Porque o Pé Descalço é para todos, e por nossa vontade chegará a TODO O MUNDO!

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Quem espera sempre alcança!


Começámos assim...
Hoje tivemos um banho de multidão! Não há outra expressão que descreva o que aconteceu hoje em Sesimbra: um banho de multidão. Fomos "soterrados" por dezenas de pessoas, e batemos o recorde de vendas do livro num só dia, com 70 exemplares vendidos. Fiquei sem mãos, sem costas e sem caneta de tanto autografar! Foi um dia fantástico, como devem entender... mas o que tem isso a ver com o título? 

E de repente... "onde está o Pé Descalço?!"
Um dos 70 autógrafos
Este é um dia especialmente importante porque se segue a alguns mentalmente mais exigentes. É fácil permanecermos fortes quando as coisas correm bem, mas quando as coisas correm menos bem é que se vê de que fibra somos feitos. Desde o mau tempo de Cascais e da Praia das Maçãs, em Sintra, ao desinteresse total de quem estava na praia da Caparica, passando por um dia gasto em reuniões em Lisboa, as últimas jornas tinham sido particularmente "magras". Esses dias foram por isso de  imensa exigência mental, porque quer eu queira quer não é fundamental conseguir atingir os números/vendas que me propus, para que o projeto seja sustentável e lucrativo: sim isso não chegamos a lado nenhum!
Foi por isso fantástico ver a minha/nossa resiliência a dar frutos, depois de passar 4 dias a dizer a mim mesmo que "podes ficar tranquilo que quando menos esperares chegas lá!". E chegámos, em Sesimbra. Soube bem, muito bem, e por isso agradeço também a quem nos ajudou a consegui-lo: obrigado Pe. Eduardo, por nos receber tão bem! (e se quiserem conhecer alguém que transborda paz interior, passem no Castelo de Sesimbra). E porque não há ponto sem nó, vendemos 70 livros no dia em que ele fez... 70 anos!!!


segunda-feira, 15 de agosto de 2016

Já vamos a meio do Norte-Sul


Praias grandes e pequenas, com gente e sem gente, sol e nevoeiro, frio e vento... encontrámos de tudo na primeira metade deste nosso Norte-Sul. Têm sido dias de intenso trabalho (desengane-se quem achar que estamos de férias!...), com muitas ou poucas vendas, muitos ou poucos “nãos”, muitas caras surpresas e a certeza de que estamos no caminho certo: o Pé Descalço chegou nestas semanas a milhares de pessoas novas, que agora conhecem esta nossa aventura e o trabalho da Mundos de Vida. Muitas delas estão agora mesmo a percorrer as suas páginas, talvez entre a perplexidade da grande “maluqueira” (que me afecta continuamente, assumo-o) e as gargalhadas de um qualquer episódio hilariante do livro.  Algumas já interagem connosco no Facebook... Estamos no caminho certo, claramente!

Têm sido também tempos de aprendizagem e descoberta: desta coisa (nova para nós) que é o autocaravanismo; da grande equipa do Pé Descalço – que 24h sobre 24h revelam muito mais do que somos que o habitual horário de trabalho; e da própria família/amigos, que nos têm vindo a acompanhar, entre os meninos, pais, sogros e amigos). É fantástico ouvir a minha sogra a cantar enquanto deslizamos por uma qualquer estrada nacional, com a sua alegria a contagiar todos; é maravilhoso ver os miúdos a jogar à bola, partilhando esse momento de traquinice num qualquer parque de estacionamento; é fenomenal quando os amigos nos surpreendem com um arroz de tamboril... e é fantástico sentir que tenho ao meu lado alguém que, nos bastidores, trata de tudo para que nos possamos concentrar no essencial: partilhar a história e vender. Obrigado por tudo isto a todos, e em especial à minha Sofia... Está a ser memorável, e ainda só vamos a meio!!!

Quanto à foto, ela diz tudo o que é esta aventura: na praia de Santa Cruz (onde estaremos amanhã), à noite, a escrever a ver o mar depois de um dia de quilómetros a pé na areia... A vida é bela!!!

sábado, 6 de agosto de 2016

“Pé mole em areia dura, tanto percorre até que vende livros”



Okay, é uma adaptação um bocadinho forçada do provérbio popular, mas a Póvoa de Varzim foi mesmo um osso duro de roer... mas no final o balanço foi extremamente positivo!

Depois de uma noite bem dormida, estávamos cheios de energia para promover o livro e a causa! Começámos ainda em Aver-o-mar, e seguimos pelas praias da Póvoa. Dividimo-nos em duas equipas – eu, a Amélia e o M. formamos uma, o Ricardo e o P. outra – e lá fomos. Eu, que toda a minha vida passei férias na Póvoa de Varzim (até perto dos 22 anos), nunca me tinha queixado da areia daquelas praias, mas ontem? Credo! Para quem não sabe, a areia das praias da Póvoa de Varzim é muito grossa e duríssima! Para estar na areia a brincar é óptima, mas para percorrer aquilo tudo… custou. De manhã percorremos cerca de 1/3 da praia, sendo que em apenas um sector concessionado não nos deram autorização para passar a zona das barracas para falar com pessoas. Pena, mas paciência. Fomos pela zona dos guarda-sóis e pára ventos e encontrámos a família da Sónia Lopes, com quem estivemos a conversar um bocadinho muito animado, e eu e a Amélia ainda tivemos a honra de ser fotografadas pelo pequeno grande fotógrafo, o filho da Sónia. Foi tão bom, que até fizemos questão que o Ricardo os conhecesse e autografasse o livro! Podem ver a foto que a Sónia gentilmente partilhou no nosso facebook. Também tive a sorte de encontrar a simpática Maria José, que prometeu ler o livro depois de Setembro, após terminar a tese de doutoramento (na qual eu participei, e por isso a conheci). Fico à espera do feedback dela. Tenho a certeza que, depois de material tão denso, será uma boa leitura pós tese. Boa sorte, Maria José!
Com as horas de maior calor, e o estômago a dar horas, voltamos à autocaravana. Sabíamos o que no esperava: um belo arroz de tamboril! A Ana e o Rui tinham trazido uma panela dele no dia anterior, e só vos digo que estava DE-LI-CI-O-SO! Eles apareceram para tomar café connosco, e tive a oportunidade de os conhecer melhor, visto que no dia anterior não tinha estado com eles (eu falei sobre isto aqui).
A companhia estava óptima, mas a praia estava repleta de pessoas para conhecer. Lá fomos, desta feita com uma estratégia diferente. O Ricardo e o P. começaram depois da praia do Carvalhido (para quem conhece a Póvoa de Varzim, a praia do Carvalhido é aquela da torre do relógio – e essa zona chama-se esplanada do Carvalhido, já agora), sendo que eu, a Amélia e o M. ficamos com a zona até lá. Encontrámos um senhor que claramente não estava de bem com a vida. Tentamos explicar-lhe os benefícios de ler o Pé Descalço, mas ele estava convicto de que não tinha nada a aprender com pessoas mais novas que ele… quando assim é, não há muito a fazer, por muitos argumentos racionais que tenhamos para apresentar. O truque é não desanimar e seguir, e não demorou muito a que encontrássemos pessoas tão positivas e cheias de vida! Perdoem-me todos os outros, mas tenho que mencionar as duas senhoras, primas, que são amigas desde sempre, ou seja, há 70 anos!!! Ambas foram professoras primárias, e eram divertidíssimas! Obrigado a ambas, pelos minutos de conversa. Encontrei muita gente da minha zona (eu sou de Riba d’Ave – e para os fãs de hóquei em patins esta referência chega - que é uma freguesia do concelho de Vila Nova de Famalicão, distrito de Braga), gente de Braga (onde eu e a Amélia residimos – mas não na mesma casa, que ela é natural de lá e eu só me mudei em 2007)… gente boa, simpática, e até um senhor que nos comprou o livro, e não quis o troco. “É para os vossos cafés e gelados”, disse, visto que andar na praia com livros atrás não é tarefa fácil. Obrigado, senhor que eu não sei o nome mas a quem desejo o melhor do mundo!
Para quem percorre a Avenida dos Banhos, as praias da Póvoa de Varzim podem não parecer assim tão extensas. Mas quem vai pela areia sofre tanto! Não vou mentir: houve momentos em que me apeteceu só deitar na areia e descansar, mas a causa é maior e as forças surgiam em segundos. Quando chegamos ao pé das últimas pessoas, mesmo no fim da praia (junto ao porto), apanhamos um susto: estava um cão dentro da barraca, que, à nossa chegada, começou a latir como se não houvesse amanhã. Apesar disso, o simpático casal acedeu a ouvir-nos e até nos comprou o livro. Só que quanto o ia entregar à senhora, dentro da barraca… o cão quase que me mordia! Pode não parecer nada, mas eu – que já fui mordida algumas vezes – tenho mesmo medo destas situações, por isso, do meu ponto de vista, eu corri perigo de vida em prol da causa! (sim, é um bocadinho exagerado eheh).
Cansados, mas felizes, voltamos para o nosso lar ambulante bem dispostos e a cantar (em abono da verdade, eu cantava uma música disparatada e eles só riam, mas é quase a mesma coisa!). E se eu achava que o dia estava a correr bem, mais feliz fiquei com a notícia que a Sofia me deu: a Ana e o Rui ofereceram a casa, na Aguçadoura, para podermos tomar banho de água quente!!! Têm consciência do luxo que é? Se acham que não, experimentem passar mais de 61h sem um – como eu – e depois digam-me qualquer coisa…
Dividimo-nos por casas. Homens para a casa deles, e mulheres para a casa dos pais do Rui. A mãe dele, a Fátima (proibiu-me terminantemente de a tratar com reverência), arranjou-nos tudo, e no fim ainda nos ofereceu o jantar!!! Nós os seis, mais eles quatro, juntos à mesa, a comer um belo arroz de carne e a partilhar histórias divertidas. Não há nada no mundo que pague isto. Nada. Como se isto não bastasse, a Ana e o Rui ainda abriram O Recanto (o estabelecimento deles) e abasteceram o nosso frigorífico, com direito a clarinhas de Fão (doce com chila típico da zona – Fão é ao lado de Ofir) e outras guloseimas!
Só vos digo isto: a vida está cheia de coisas boas J

by Paula Ferreira Lobo

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

Contra ventos e marés (mais ou menos, vá)

Começando como começam muitas boas histórias, ou seja, pelo princípio, vamos recuar a terça-feira, o primeiro dia desta aventura.
Os Frades e a Amélia enfiaram-se na autocaravana e partiram em direção a Moledo, em Viana do Castelo, onde passaram a primeira noite. A manhã do dia seguinte foi muito produtiva, porque conseguiram percorrer o areal todo, falando com muitas pessoas simpáticas e sensibilizadas para a causa do acolhimento familiar, e curiosas quanto ao livro. Vendemos alguns livros (não, não somos hipócritas e não vamos fingir que não queremos vender livros. Queremos, claro, porque isso é bom para toda a gente, incluindo para a Mundos de Vida, cuja causa também queremos – e estamos! – a promover). Voltaram [eu só cheguei na quarta] à caravana e partiram para Vila Praia de Âncora, onde estacionaram para que a Sofia pudesse cozinhar o almoço. Da parte da tarde, enquanto que o P. e o M. foram ver se o Atlântico está mais frio ou mais quente que o ano passado – uma árdua missão que vão levar a cabo durante todo o mês de agosto – o Ricardo e a Amélia foram de livros às costas pela areia falar com mais pessoas simpáticas. Só faltou a simpatia do S.Pedro, que não colaborou e fez com que a tarde ficasse mais curta, devido ao vento: sem pessoas na praia, não fazia sentido lá andar. Recolhidos ao “Lar doce lar” ambulante, o planeamento do dia seguinte ditava que Afife era a praia da manhã, e foi para lá que rumaram, onde, lá chegados, jantaram e acabaram por pernoitar.
Na manhã seguinte cheguei eu, de comboio, para me juntar à equipa. Assim, foi possível dividirmos esforços, e enquanto a super dupla Ricardo/Amélia passeava pelo areal, eu fiquei responsável pela banquinha de vender livros à entrada da praia, junto à autocaravana. O mais curioso desta experiência foi que apanhámos muitos estrangeiros, a quem nunca deixamos de explicar todo o projeto e a causa que lhe está associada. Umas senhoras britânicas ficaram muito interessadas, e entraram em êxtase quando lhes dissemos que estamos a trabalhar na tradução do livro para inglês! (e se isto constitui uma surpresa é porque ainda não subscreveram a newsletter do Pé Descalço! Eu – que sou um bocadinho suspeita – recomendo-a. Como fazer? Está tudo aqui) É muito gratificante perceber o interesse e o entusiasmo das pessoas pelo projeto que também é um bocadinho meu, e gostava de ter fotografado o momento em que uma senhora vai a passar pela autocaravana e, na altura em que vou tentar interpelá-la, ela com um sorriso enorme diz-me “eu já tenho o livro, menina”, e aponta para um compartimento da mochila onde, acredito, tinha colocado o livro. Acreditem que estes pequenos momentos são os que nos marcam, pela positiva!
Com o final da manhã fomos almoçar com vista para o mar, que é uma das coisas boas de andar de autocaravana. Durante a tarde traçámos o percurso: do Cabedelo até à Amorosa. Infelizmente o tempo não ajudou, e afugentou as pessoas da praia. Decidimos então aproveitar para ir às compras, e partir para sul, até Ofir. Lá chegados, fomos brindados com ainda mais vento que em Viana do Castelo (Ofir pertence ao distrito de Braga) e confinamo-nos à caravana. Aproveitámos para ir descansar cedo e retemperar energias. Ou assim perspetivamos. A noite trouxe muitos jovens àquela zona – no parque de estacionamento junto às famigeradas Torres de Ofir – com o intuito, creio eu, de ir até à discoteca Biba Ofir. Só que acharam mais piada ficar no parque de estacionamento, com o leitor de mp3 ligado às colunas do carro, no máximo, de portas abertas e, dado o barulho, tiveram que manter a conversa aos berros (pois claro, baixar o volume da música não era uma opção ‘top’). Houve ainda espaço para algum street racing, a julgar pelo barulho, que eu não me dei ao trabalho de descer do meu beliche para verificar. Por volta das 6h lá decidiram ir embora e deixar-nos descansar (se estiverem a ler isto, obrigadinha ‘migos’!). Como se os episódios nocturnos não fossem desgraça suficiente, quando acordamos e abrimos as janelas…estava a chover! “Uma desgraça nunca vem só”.
Mas isto é o Pé Descalço, por isso o pensamento positivo impera sempre! Revimos o plano, delineamos alternativas e jogamos ao UNO enquanto a Sofia nos fazia o almoço vegetariano. Da parte da tarde, e visto que o S.Pedro não deu tréguas, eu, a Amélia, a Sofia e o M. fomos até à biblioteca de Esposende, onde aproveitamos para carregar a bateria dos computadores e dos telemóveis, bem como adiantar algum trabalho da viagem (divulgação – escrita deste blog incluída, que o texto anterior foi escrito lá – acerto de detalhes dos próximos passos – autorizações de estacionamento e coisas assim – e mais um sem número de coisas relativas aos muitos projetos da Génio & Audácia, a empresa do Ricardo). O Ricardo e o P. ainda tentaram a sorte nas praias, mas o mau tempo venceu. Também montaram uma banca de venda de livros na rua, mas a polícia explicou que teríamos que ter um sem número de autorizações (que não tínhamos, porque foi uma solução improvisada), e então optámos por seguir viagem até à Póvoa de Varzim.
Estacionámos a caravana junto ao Estádio do Varzim, e jantámos a ver o filme ‘El Chef’ (aquele filme que o Ricardo refere na última newsletter). Aconselho que vejam, mas com a barriga cheia, caso contrário é capaz de não ser boa ideia! No final do jantar o Rui e a Ana, o super simpático casal amigo do Ricardo e da Sofia, apareceram para café. Eles foram, eu e a Amélia ficamos em ‘casa’, a tentar que o RTP Play funcionasse para podermos acompanhar o jogo de estreia da seleção olímpica de futebol nos jogos do Rio de Janeiro (para os mais distraídos, vencemos a alegada candidata ao título – Argentina – por 2-0). Vimos a segunda parte, e fomos dormir com o sentimento de que não há mesmo impossíveis, e que o amanhã seria um bom dia. E foi! Mas sobre isso conversamos amanhã, lá pela hora do almoço, que agora está na hora de ir descansar.
by Paula Ferreira Lobo

quinta-feira, 4 de agosto de 2016

E porque não andar com o pé descalço?


Calma, não é na rua, é na praia. O que, à partida, pode parecer que, então, é normal, mas não é bem. Ou não estivéssemos a falar do Pé Descalço e do(s) seu(s) promotores.
“Qual é a ideia maluca desta vez?”, perguntarão os mais conhecedores. É vender bolas de Berlim, ou quase, vá. O Pé Descalço vai percorrer as praias de Portugal, de norte a sul, a vender o livro no areal. Sim sim, leram bem: no areal. Se se pode vender comida, bebida, e brinquedos, porque é que não haveria de se vender livros?! Vestidos a rigor com a causa da Mundos de Vida, já estivemos em praias de Viana do Castelo e Braga, e vamos continuar, descendo pelo Porto, Aveiro e por aí fora, até ao Algarve. Isto, por si só, já era (um bocadinho) excêntrico. Mas há mais: toda esta aventura vai ser a reboque de uma autocaravana. É através dela que nos deslocamos, é lá que comemos e dormimos. Só não é lá que tomamos banho, pois temo-nos servido dos chuveiros públicos das praias. Sim, a água é fria, mas é verão, aguenta-se (a custo, no meu caso, tenho que confessar).
E valerá a pena esse sacrifício? Sendo normal que os balanços se façam apenas no final das coisas, a verdade é que isto tudo já está a valer a pena, e eu só cá cheguei ontem! Nunca tinha andado de autocaravana; não conhecia algumas das praias que já visitamos, e muitas das que vamos visitar; não conhecia bem a Amélia; já não jogava UNO há uns dois anos… E se isto vos está a soar a pouco é porque não leram o “Pé Descalço – da Suécia a Portugal sem um tostão!”.
A aventura começou há dois dias, em Moledo, com os Frades, o Ricardo e a sua Sofia (ele chama-lhe Fi, o que é outra coisa que aprendi com o convívio, típico de quem passa 24h por dia juntos), o P. e o M. (dois do meninos que eles acolheram, que estão a adorar a experiência de umas férias diferentes, e os mergulhos em quase todas as praias), e a Amélia (que trabalha na empresa do Ricardo desde dezembro – e eu já conhecia, dos meus tempos de Universidade do Minho, mas, visto que ela é mais nova que eu, não estudámos juntas e não tivemos muito contacto). Eu juntei-me em Afife, ontem de manhã, e vou ser os vossos ‘olhos e ouvidos’ (expressão importada do inglês “eyes and ears”) nesta aventura: nos dias em que estiver cá vou partilhar convosco, aqui, numa espécie de ‘Querido Diário’, mas muito melhor, visto que não estarei a escrever para mim mesma, que nunca fui fã do conceito. Se gostarem, prometo negociar com o Ricardo a escrita sobre os dias em que eu não vou estar! No entretanto, podem sempre ir acompanhando as imagens, no instagram @livro.pedescalco no twitter @PeDescalco2013 e em facebook.com/PeDescalco2013
Amanhã de manhã prometo fazer um apanhado de tudo o que já vivemos, e, acreditem, já foram algumas as peripécias dignas de registo!
by Paula Ferreira Lobo

domingo, 1 de maio de 2016

Semana e meia de estrada... foi demolidor!

Começo a crónica de hoje por revisitar uma questão que me colocam muitas vezes, e que já aflorei na crónica anterior: "mas tu vendes assim tantos livros nas escolas que valha a pena?!". Tudo vale a pena quando a Alma não é pequena, já dizia o poeta... Sim, vale: porque o trabalho se paga a si próprio (sem que fique rico, necessariamente), e porque vale sempre a pena quando passamos o tempo a cumprir a nossa missão neste "aquário" a que chamamos planeta Terra. Eu realizo-me a ajudar os outros a crescer, seja na área financeira seja noutras áreas; como professor, realizava-me a fazer os meus alunos crescer "transversalmente", como pessoas integrais que eram; e com estas visitas às escolas, não só me sinto realizado pedagogicamente como devolvo à sociedade, sob a forma da "inquetude mental" que imponho aos jovens, o que fui recebendo de tantas pessoas nos últimos anos. Mas sabem que mais?... Recebo ainda mais do que dou! Não acreditam? Ora vejam:

Casa cheíssima, em Portimão!
a) Recebo porque atravesso o país para apresentar o livro e encontro uma sala completamente esgotada, com mais de 150 alunos vibrantes e inquietos, ávidos de descobrir mais sobre a vida, que responderam de forma fantástica ao desafio (eles e os vários professores presentes).

A comer Catchupa, um deliciosíssimo prato cabo-verdiano!
b) Recebo porque sou acolhido de forma fantástica pelo Pe. José Pedro no seminário de Faro, onde dormi quatro descansada noites, e porque sou presenteado por um fantástico prato cabo-verdiano numa almoçarada com os seminaristas, alguns deles de Cabo Verde. E isto depois de, horas antes, não fazer ideia de onde iria dormir!!!


Em Loulé, com os escuteiros da cidade
c) Recebo porque sou convidado para jantar, do nada, por gente fantástica como os escuteiros do  Agrupamento de Escuteiros de Loulé, que conheci numa missa na sua cidade, e que me "espremeram" largamente, no que toca ao que eu faço, à partilha das minhas ideias e até a técnicas de canto!


Com Ana e Bal Krishna, mentor paciente na arte de gerir mente e emoções
d) E recebo porque acabo a rever amigos como Bal Krishna (e a Ana), que com a sua paciência e tranquilidade, com um simples sorriso e um abraço, me fazem sorrir e me relembram que a vida é bela, que o nosso mundo interior tem um reflexo enorme no exterior e em tudo o que nos acontece!

Em suma, passo as viagens a dar, mas acabo a chegar a casa mais rico do que fui... Assim vale a pena!